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“MAIS UM ROUND”: Entrevista com Funk Buia, o músico dos ringues

“Mais Um Round” é o recente sucesso de Funk Buia, música que trata das vivências do artista no ringue, onde o rap é mais uma arma contra os seus adversários

Atenção, manos! É guarda alta, não baixa… essa é uma das frases da canção “Mais um Round” que narra a vida, dentro e fora, dos ringues de Roberto William da Silva Leite, artista conhecido como Funk Buia, diretamente do Taboão da Serra (SP).

Buia começou desde os seus 11 anos a escrever suas próprias canções, ele também contou, em entrevista ao Portal Rap Dab, que gostava bastante de escrever frases já pensando em formar um rap.

“E sempre estar na ripa, né? Não pode deixar de estar se movimento na atividade!”, diz ele.

Sua recente participação no clipe Chuck Berry de Black Alien

Em 1992, montou um grupo de Rap com alguns companheiros, chamado “Justiceiros do Rap”, porém, nunca escondeu o seu encantamento pelo samba, gênero musical que ele carrega e se inspira para todas as suas produções.

“Meu sonho na verdade era ter um grupo de samba, tá ligado? Um mano me chamou porque eu ia cantar samba e os caras me falavam que eu cantava rap, mas, quando eu ia para o rap, os caras falavam que eu queria cantar samba… aí eu não sabia o que fazer! Fiquei nesse caminho e fui para os Justiceiros, depois de 2 anos eu sai do grupo.”

Logo após, Roberto montou o seu grupo de samba, chamado “Vício Nacional”, era formado pela base de sua comunidade, amigos das proximidades.

“Rapaziada do Jardim Leme, junto com o Rochinha e o Reinaldo – Nadãao, hoje, já não está mais com nós.”

É MAIS UM ROUND: GÊNEROS MUSICAIS E LUGAR NA CENA

Um som que se diferencia e se destaca, essas são as canções que passam pelos ajustes de Buia, já que ele coloca em suas produções inúmeras referências de gêneros musicais. Ele mesmo já não se classifica dentro de um gênero musical, como dizia Jair Rodrigues “Deixe que digam, que pensem, que falem […]”.

“Consideração de ser rapper é quando eu conto alguma história da minha vida por cima de boom bap mesmo, sabe? Agora, na vida mesmo, eu me considero Buia, o que eu tenho de referência musical é o que eu tento colocar na minha musicalidade própria, entendeu? Às vezes eu estou fazendo um som, vejo que cabe uma levada musical diferente, uma métrica diferente… eu vou usufruir dela ao invés de seguir reto.”

Em 2011, seu clipe Hipnose do álbum “Verdadeiro Tem Que Ser”, já mostrou uma levada do que o Buia gosta de trazer: cenários do cotidiano, letras com sentimento e com a narrativa das ruas que ele conhece e anda.

Quando o rap é usado como serviço e como voz para o que está sem atenção, aparentemente as referências vão se encaixando sem medo.

“Porque referências deixam a música mais rica quando você sabe usufruir delas, entendeu? Sem copiaaaaaaar.”

É MAIS UM ROUND: COMPOSIÇÃO

“A música “Mais Um Round”, ela nasceu por causa dos meus treinos, porque eu sou professor de Muay Thai e de Boxe também, tenho formação em Muay Thai. Conforme o meu dia a dia, as caminhadas das aulas e tudo.

Eu pensei em fazer uma música em que meus alunos, meus parceiros, os caras que lutam vão ouvir e se identificar com ela. Esse foi o primeiro processo para que a letra nascesse, foi esse castelo que eu fiz.”

Se dividir entre os palcos e os ringues já faz parte da história do cantor, muitos artistas possuem outras profissões paralelas as suas composições musicais, produções e agendas de shows.

A frase “É mais um round”, também pode ser interpretada como essa vida de novas e novas etapas, todas se iniciando e finalizando dentro de um mesmo dia para que no fim, nem o artista e nem o público seja liquidado por possíveis faltas de oportunidade de terem exposto ou apreciado alguma obra.

foto por: LCSProduções

[A música Mais um Round] Quando estava pronta, veio a ideia de fazer o clipe e então, por cima da letra eu já castelei, o quê? Já que eu estou falando disso aí, eu tenho que mostrar realmente o que eu estou falando, porque se eu demonstrar de uma forma cotidiana minha mesmo, o clipe vai ficar daora!”

“Porque só de eu treinar e acordar cedo, aquele papo de eu chamar a minha irmã foi uma ideia que a gente teve em fazer uma história em cima do clipe… o cenário que a gente usa é a minha casa mesmo, a casa da minha mãe, está lá o meu sobrinho.”

OS ROUNDS E O VISUAL

Sem muitas produções em seus clipes, Funk Buia diz que isso não é o seu foco, suas criações querem conversar com quem mais sente do que vê.

“A super produção é tocada no coração, às vezes tem holofote, pá… luz, brilho e nave espacial, mas não mexe com ninguém, entendeu? Às vezes um bagulho simples toca no coração das pessoas e quando você demonstra e repassa a tua verdade, não tem como não. Um exemplo mesmo é essa entrevista, a caminhada… se eu não viesse sempre assim do jeito que eu ajo, hoje, não estaríamos aqui.”

“Isso de tentar ser familiar é o que eu acredito. Quanto mais dermos holofote para a nossa família, menos pilantras vão ter.”

É MAIS UM ROUND: A LUTA

Anos de carreira artística não mudaram as finalizações do professor de Muay Thai, quem ele quer impressionar e enaltecer continua sendo a sua família e amigos, seus clipes, que apresentam quem está ao seu lado e sendo inspiração, nos chamam para além das faixas musicais, traz um pouco mais da ideia do que aquele vídeo quer nos passar.

“Para mim tem que ser para eternidade. Chegou uma hora que a minha maturidade com a música, faz com que eu queira eternizar as minhas paradas e, quando eu deixo e mostro que é a minha família e meu povo, tudo fica mais sério e original. Foi em cima de ideias que a gente travou no castelo.”

Sobre a caminhada na música e na vida, Roberto dá uma aula de aprendizado e mostra o quanto o esporte deu a disciplina para que ele enxergasse mais além.

Team Pancada – Seu grupo de Luta

“Para mim a luta é um parâmetro da vida, tudo o que se faz no ringue é o que se faz na vida de forma paralela. Você não pode desperdiçar energia e nem gastar golpe, não pode se envolver na ideia dos outros, não pode abraçar uma fita, não pode ser covarde, não pode bater em um cara que não aguenta com você. A vida é um parâmetro e se você não treinar, não tem excelência na hora de executar! A vida é um parâmetro com a luta e isso e um raciocínio básico que eu tenho.”

MAS E O “PEI”?

É MAIS UM ROUND: SEQUÊNCIA D PEI

“E o PEI é uma expressão que eu criei, que é tudo que é impactante e tudo o que causa impacto. Na verdade, o PEI, é Pancada Especifica de Impacto.”

“E na vida tem várias pancadas, né? Tem umas que para você levantar vai um ano, dois anos, três anos. Às vezes a gente passa a vida toda pra curar uma pancada que tomou… e no ringue, é a mesma coisa.”

No mundo do rap, mesclar gêneros musicais vem sendo mais aceito com produtores mais ecléticos, vindos de outros estilos musicais e agora também se aventurando em estilos artísticos mais variados.

Sabemos que para o rap tomar mais espaço ele precisa ser olhado com mais respeito, já que as suas letras dizem aquilo que as pessoas sabem que existe, mas preferem ignorar. Misturar os ritmos aqui, como faz Funk Buia, não é só para melhorar a percussão da canção, isso mostra que a vida é uma mistura, o Brasil é uma mistura e o rap sabe se misturar, mesmo quando é colocado de lado para ser ingerido sozinho.

Cenas do clipe “Mais Um Round”

LCSProduções

“O que eu mais escuto é raga, reggae […] Antigamente eu não suportava ouvir reggae que me dava sono, mas eu aprendi a ouvir e não só curtir e, hoje, me passa paz e tranquilidade. E tem o samba que vem, né? É o berço que eu sempre ouvi, tem outros gêneros musicais também, Tim Maia, Bebeto, sabe? Bambas & Biritas, Banda Mantiqueira, sons de rap das antigas… rapaziada do sistema negro de Campinas e, às vezes, a gente está na quebrada e escuta coisa que a gente nem gosta também, isso pode inspirar a gente a escrever algo daora.”

“É mais um round!” – Questionado sobre o que falta em sua carreira, Funk Buia é direto:

“Sobre a música, agora era só ganhar dinheiro mesmo, entendeu? HAHAHA”                         

“Já toquei em lugares na vida que eu vou falar para você, hein! Fora o mundial na Índia – tinham 20 metros de palco, eu me vi uma formiga-, toquei no Sónar [Festival] na Espanha, já toquei no Credicard Hall, já toquei com o Bambaataa, Zeca Baleiro, Natiruts, com Marku Ribas… tive a satisfação de cantar com ele. Carlos Dafé, Walmir Gil Trompetista. Na música, eu sou realizadão. Só de viver da minha arte e sem tem que trabalhar para as outras pessoas, estar trancado dentro de um escritório, fazendo os bagulhos… eu já sou realizadão mesmo haha! E Deus abençoe.”

Funk Buia, Roberto, da Silva, Leite… no Brasil os artistas ganham nomes, pseudônimos e diversas categorias musicais, já Funk Buia, ao longo do caminho buscou ir se desvencilhando dessas caixinhas e, ele como professor, vem ensinando na cena do rap, raga ou qualquer gênero que ele queira mostrar, que como a música vaza por vários espaços, também não é legal para um artista se limitar. Fique agora com o clipe “Mais Um Round” e quando ouvir lembre-se: a tentativa é de beijar o sucesso, seja no ringue ou na vida, só não pode beijar a lona.

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Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

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