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Festival Lado B: Entrevista com Don L

O Festival Lado B estremeceu Maringá, o rapper DON L esteve presente no palco e bateu um papo exclusivo com o Portal Rap Dab

O Festival LADO B teve a sua segunda edição no dia 8 de abril, a HYPE ENTRETENIMENTO atendendo o clamor regional do Paraná, criou um festival alternativo à altura dos eventos da produtora, voltado exclusivamente para o público do rap, trap e derivados. A primeira edição do festival foi com os artistas  BLACK ALIEN, CYNTHIA LUZ, FROID com uma grande estrutura, onde mais de 3 mil pessoas estiveram presentes. 

Para a segunda edição, subiram ao palco  DJONGA, FLORA MATOS E DON L,  artistas que carregam números na casa de milhares de ouvintes e visualizações nas redes sociais.

Após o show, o rapper DON L conversou exclusivamente com Portal Rap Dab e falou sobre a sua lírica e a importância do nordeste no cenário musical.

Don L I Músicas

Gabriel Linhares da Rocha, o rapper Don L que despontou no cenário do rap nacional, em 2006 com o grupo de rap Costa a Costa, já sob o pseudônimo de Don L, juntou-se ao rapper Nego Gallo, Berg Mendes e DJ Flip Jay  que se uniram tempo depois ao projeto.

Suas músicas dentro do grupo ou já em carreira solo, sempre contaram com ideias e líricas de tirar o fôlego, com muita reflexão sobre a realidade do Brasil, principalmente do Norte e do Nordeste do país. DON L é um dos maiores responsáveis em trazer  os holofotes ao rap da parte superior do mapa do Brasil.

Nascido em Brasília, (DF), mudou para Fortaleza, Ceará, aos 4 anos de idade com a sua família e foi lá que ele viveu até o início da vida adulta, conquistando as maiores referências para a sua vida, também garantindo o seu marcante sotaque. 

Seus álbuns em carreira solo: Caro Vapor / Vida e Veneno Don L, Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 2, Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 3

Entrevista:

Rap Dab: O seu show parece ser uma experiência quase que religiosa, como é para você essa troca de energia tão forte nos palcos com o público?

Don L: “A gente tenta trazer essa experiência no show, algo mais imersivo, né? Entregar um mundo que eu imagino ser possível, então tentamos trazer a rapaziada para imaginar  possibilidades fora do que é imposto para gente enquanto indivíduos e também no coletivo, tento trazer isso para o show”.

Rap Dab: O que pensou para esse último disco, quais as referências?

Don L: “Nesse disco, usei muito essa coisa do pastor e tal, quis trazer essa atmosfera mesmo de uma celebração mais espiritual, até para trazer a imagem do pastor com um sincretismo e outras tradições religiosas, como as afro brasileiras e indígenas, mas com a figura do pastor como um líder religioso e revolucionário, assim como acredito que seja a verdadeira história de Cristo como eles tanto falam. Tento trazer para o show uma história de contracultura e de evolução para entrarmos no mundo de ‘Lwood’ mesmo”.

Rap Dab: Você enxerga a cena do rap diferente para o Nordeste atualmente? Sente que agora o Brasil está vendo a potência que o rap e o trap tem na região?

Don L: “Quando começamos ainda não era nem cogitado a possibilidade de alguém do nordeste ter um nome de relevância nacional,  a gente era meio tirado de segunda divisão sempre e hoje em dia está muito melhor, bem diferente. Quando aparece um novo artista do nordeste ele é considerado como uma possibilidade de ser um dos principais da cena brasileira, não tratam mais como eram antes. Mesmo assim,  a gente ainda está falando de uma região que tem uma circulação de dinheiro menor, menos produtoras de vídeo e os escritórios das grandes marcas e filiais ainda não estão lá. Temos um grande caminho ainda para percorrer”.

Rap Dab: Acredita que há possibilidade de igualar a região ao cenário musical?

Don L: “Isso também tem a ver com o nosso subdesenvolvimento enquanto país, com essas diferenças regionais ainda muito grandes. Essas coisas não andam por conta própria, o rap do nordeste só vai se tornar como eu gostaria que ele fosse, se a gente mudar o Brasil em si, isso tem relação com a política, com economia e com muita coisa junto, mas apesar de tudo  a gente tá bem melhor do que antes, eu vejo evolução”.

Nordeste agora tem bastante festivais, mas falta mais circulação do rap fora das capitais. É muito mais difícil você ver shows de rap em cidades do interior do nordeste ou do norte do país, ainda estamos presos há capitais e grandes centros urbanos. Seria bom se isso  mudasse para que os artistas circulassem mais, que nós não fossemos só em Salvador, que a gente também possa ir a Feira de Santana, por exemplo, outras cidades que são grandes, mas que ainda não tem a circulação grande rap”.

Rap Dab: Suas músicas são bem melódicas, você possui flows com uma lírica mais pausada do que vemos atualmente. Acredita que é um dos últimos representantes desse estilo na atualidade?

Don L: “Gosto de fazer flows acelerados, mas é outro estilo de flow não é esse clássico do trap, mas acho que cada artista faz o seu. Eu fui criando o meu próprio estilo, hoje em dia tem muita gente que faz sucesso antes mesmo de ter o seu estilo, a pessoa ainda está tentando copiar alguém e já faz sucesso. Todos nós começamos copiando alguém, quando a gente está começando a fazer música, acaba querendo copiar os nossos ídolos e tal, eu também fiz isso, mas na época eu não lancei nada, estava só me desenvolvendo e fui vendo o meu próprio estilo. Hoje, eu tenho a intenção de fazer algo sem ser parecido com ninguém, me coloco sempre como se estivesse em um cenário mundial, então não quero fazer nada parecido com ninguém. Para mim não é o suficiente ser original só no Brasil, quero ser original no mundo”.

Rap Dab: Qual é o conselho que você dá para os jovens que se inspiram em você e buscam pela carreira na arte e no hip hop?

Don L: “Fazer o seu bagulho, procurar o seu estilo, buscar aprender as coisas que sejam relevantes para você e passar para outras pessoas. O rap é uma busca individual e da sua própria visão de mundo, evolução como pessoa espiritual, também uma busca coletiva. Sempre foi uma manifestação coletiva por melhores condições de vida para a molecada, é importante também pensarem sobre isso”.

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Ana Carla Dias

Jornalismo e Direção de Arte

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